terça-feira, 16 de outubro de 2012

PROJETO DE GRAFITE



  
ESCOLA MUNICIPAL GLÓRIA MARQUES DINIZ


PROJETO
GRAFFITE:
Por uma cultura de paz na escola!

DIRETORA
Fabiana Moraes Machado

Vice-diretores
Eloisa Barbosa
Heber Junio

Contagem, março de 2012.

DADOS DA IDENTIFICAÇÃO
Escola Municipal Glória Marques Diniz
Educador responsável: Sérgio Donizeti Ferrreira

DADOS DO PROJETO

Nome do projeto: Graffite: por uma cultura de paz na escola!

Turno: 1º, 3º turnos e Programa Escola Aberta
Ano/ Ciclo ou Segmento: 2º, 3º ciclos e comunidade no entorno da escola.

Histórico do projeto:
Cultura de paz: paz, como é que se faz?
Em 2009 eu (prof. Sérgio) trabalhava em dois turnos da Escola Municipal Glória Marques Diniz, no da manhã e da tarde. Pela manhã, tinha dez turmas no 3º ciclo, lecionava a disciplina ensino religioso. À tarde, além de ensino religioso, também dava aulas de história para o 3º ano do 2º ciclo.
Bem, a escola estava ficando visivelmente suja com o aumento das pichações, principalmente nas salas de números 25 ao 30. Eu não trabalhava diretamente nestas salas, mas percebia que as salas do andar de cima também apresentavam um aumento dos rabiscos nas paredes e, claro, as pichações.
Então, à tarde, eu e a supervisora Sandra Mara conversamos com alguns estudantes da sala 12, a qual era uma das mais afetadas, ali estudavam alunos do 3º ano do 2º ciclo. Achávamos que alguns dos garotos desta turma a estavam pichando. Porém, logo pude concluir que ou eles não eram os únicos a pichá-la ou não eram eles e sim os que a usavam pela manhã. Digo isso porque estes garotos se tornaram nossos “aliados” informando o aparecimento de novas pichações. Esse fato foi muito interessante e me fez encorajá-los a limpar a sua própria sala. No final do mês de dezembro realizamos a tão esperada limpeza da sala. Essa experiência foi muito positiva e nos fez refletir.
Pela manhã propus a mesma atividade para a turma da sala 14, na qual estudavam alunos de 2º ano do 3º ciclo. Fiz isso porque as paredes desta sala também estavam um pouco sujas. Usei o argumento junto aos estudantes de que a sala era deles, era nossa, e que, portanto, caberia a nós todos decidir o modo como queríamos aquele espaço. Deveríamos intervir nele e colaborar na sua manutenção. No princípio um pouco de resistência, mas isso não me assustou. Argumentei que seria uma aula prática de cidadania; minha intenção não era castigá-los e, sim, que eles participassem de uma forma mais direta da vida da escola. Ao final da nossa conversa os estudantes concordaram em cooperar.

A (in) experiência e o aprender fazendo
Depois de termos a idéia do que íamos fazer e de conversar com essas duas turmas, passei a correr atrás de quem entendia sobre o assunto limpeza de pichações na escola, ou seja, a equipe que trabalha na manutenção da limpeza dentro da escola. As componentes dessa equipe me deram as dicas: usar álcool, esponja, esponja de aço, água e panos velhos. Recordo que numa certa vez eu pedi a duas delas que fossem à sala da turma da manhã para orientarem aos estudantes sobre como deveria ser o procedimento da limpeza das paredes. Os estudantes não deram muita idéia, mas escutaram.
Eu diria que desde o início tudo foi uma novidade para mim. Eu nunca tinha feito nada parecido; era a primeira vez que eu me lançava numa proposta deste tipo, apesar de meu pouco tempo de trabalho nesta instituição. Do início até agora, tudo tem sido aprendizado.

Botando a mão na massa
Nos últimos dias letivos de 2009 realizamos o trabalho de limpeza nas salas. Na turma da tarde participaram 13 estudantes, o professor de educação física, Ricardo, e eu, professor de ensino religioso. Na turma da manhã, participaram 7 estudantes da turma, 5 garotos e 2 garotas. Chamou minha atenção o fato de nas duas turmas haver um sentido gregário bem evidente, ou seja, dava a entender que para os que “botaram a mão na massa” era como se cada um inconscientemente dissesse “eu estou aqui porque meu colega, meu parceiro, também está”.
Na turma da manhã eu notei certa “vergonha” de começar o trabalho, mas depois que uns dois iniciaram os outros tomaram coragem e também foram. Em resumo eu digo que foi uma experiência muito gratificante e interessante. Explico! Gratificante porque à medida que a coisa ia acontecendo surgia uma cumplicidade entre todos nós em relação ao projeto. Interessante porque era uma descoberta nova para todos nós e ao mesmo tempo um aprendizado, um aprender juntos.
Algumas falas soltas de que não me esqueci, exemplos como: “nunca pensei que eu fosse fazer um trabalho assim”; “agora se eu vir alguém rabiscando a parede eu corto o dedo dele”.

Uma práxis dialética
Recordo que quando eu e a turma da manhã concluímos o trabalho todos estavam satisfeitos com o resultado do trabalho. No momento em que estávamos lavando os panos e recolhendo o material de trabalho o Henrique fez uma sugestão da qual não me esqueci: “que tal a gente fazer um projeto para limpar a escola?” Eu imediatamente respondi: “Eu topo”. Completei dizendo que em 2010 voltaríamos a conversar. Ali mesmo combinamos que faríamos uma confraternização pelo que nós tínhamos feito: eu bancaria as pizzas e os meninos decidiram rachar o refri. No dia seguinte fomos para o abraço e realizamos o combinado.
Acima usei um subtítulo um tanto pomposo, intelectualmente falando, ou, no mínimo, ininteligível para as pessoas que desconhecem o jargão. Mas vamos lá. O que quero dizer é bem simples. Práxis porque foi uma ação e uma ação pensada e realizada tendo uma intencionalidade. Uma ação que tem a ver com um modo de ser e estar no mundo e, principalmente, uma maneira de pensar e vivenciar a proposta concreta de uma escola cujo objetivo é provocar a dinâmica da educação, da formação de outras pessoas. O termo dialético quer transmitir a noção de que quando duas pessoas ou mais se põem em relação elas se afetam mutuamente, de tal modo que nenhuma das duas sai do mesmo modo que entrou. Isso vale para o nosso pensamento, o modo como avaliamos a vida e como organizamos o mundo à nossa volta ou as próprias idéias que temos. Basta pararmos pra “trocar idéia com alguém” ou meditarmos sobre o que fizemos ao longo de nosso dia para refazermos nossas posições sobre o mundo, nossas opiniões etc.

O primeiro semestre de 2010 e a organização do mutirão de limpeza
Iniciamos o ano de 2010 e a pessoa com quem primeiro conversei foi o Henrique. Ele se mostrava disposto a levar avante a idéia inicial. Então, marcamos com os outros quatro garotos, o João Vitor, o Guilherme, o Willimar e Giovanni, de conversar sobre a proposta.
O primeiro combinado nosso foi: passar em todas as salas e convidar voluntários para participar do projeto. Esse foi um momento muito significante para mim pois passávamos nas salas juntos, eles e eu. Eu os encorajava a falarem sobre o projeto e eles deram conta do recado direitinho. Eu notei nessa experiência que quando são os próprios estudantes tentando convencer os outros colegas de alguma coisa isso se torna mais eficiente. Eles fizeram afirmações para os colegas como as que seguem: “a gente quando vai a festas de colegas nossos em outros bairros e eles perguntam pra gente onde estudamos, quando falamos que é no Glória Marques eles dizem assim: nó, aquela escola toda pichada?!”; “a gente tem que ver que se a gente fizer coisas assim a gente pode participar de bons projetos na escola”. Eu refletia com os estudantes que a sala pichada como estava era uma herança que eles tinham recebido das outras turmas que haviam estudado ali antes deles e que eles deveriam pensar sobre a herança que eles gostariam de deixar para as outras turmas que viriam depois deles.
O apoio dos professores
Conversamos com a direção da escola sobre este projeto e logo ela topou o desafio. Também houve apoio do grupo de professores de artes e educação física. Outros colegas que cederam suas aulas para que as salas pudessem ser limpas foram: o professor Maurício de matemática, o Teobaldo, professor de historia, a Rita, a Gerusa de matemática, a Katia etc.
No segundo semestre de 2011
Se no primeiro semestre de 2010 ocorreu a mobilização para retirar as pichações, no segundo, apareceram algumas pichações esparsas pela escola. Os próprios estudantes do primeiro turno começaram a me procurar para me relatar o ocorrido e dizer que era o autor do feito. Eu fazia questão de lembrar, nas minhas aulas, o trabalho em equipe e o resultado positivo do trabalho desenvolvido pelos estudantes que participaram da experiência.
Notei que os estudantes começaram a ver em mim uma referência quando se tratava do assunto pichação. Então, comecei a procurar os estudantes responsáveis pelos feitos e propunha a eles duas alternativas básicas para tratar do caso: a) ser encaminhado para a direção e esta assumir a condução do caso; b) ou, limpar o feito, receber um orientação de um trabalho a ser apresentado em sala de aula, sendo acompanhado por mim durante todo o processo. Dos cerca de 12 adolescentes que foram descobertos pichando e que passaram por este processo, todos escolheram a segunda opção.
Ao final de 2010, percebendo que os estudantes envolvidos com a pichação gostavam de desenhar, propus a eles de lhes trazer alguns desenhos, modelos de escritas e caracteres de outras línguas que se aproximavam da pichação e queria que eles fizessem estes desenhos em casa e me mostrassem depois; e assim foi feito. Durante um tempo eu lhes dava material de rascunho, alguns exemplos de tipos de escritas de outras culturas. Eles reproduziam estes desenhos e me mostravam. Geralmente os alunos envolvidos nestas atividades são aqueles que não apresentavam os melhores resultados ou que correspondiam ao padrão do tradicional “bom aluno”. Além das questões cognitivas, as de ordem disciplinar também eram evidentes.
Após esta experiência foi amadurecendo a idéia de se fazer pinturas nos muros da escola. Para tanto começamos a organizar algumas oficinas. Neste momento o professor Gustavo, de geografia, participou, era início de 2011. Tentando dar continuidade ao processo, foi feito um orçamento para aquisição das tintas, porém a demora em conseguir o material fez com que o processo parasse por um certo tempo, sendo retomado somente ao final de 2011.
A partir de novembro, 2011, convidamos o graffiteiro Maizena para dar algumas oficinas de graffite e ver se seria possível dar sequência ao projeto de pintura dos muros e/ ou outros espaços da escola. Foram feitas cerca de seis oficinas; nas primeiras foram dadas algumas noções de graffite, feitos esboços, rascunhos e desenhos no papel, na última os meninos transferiram suas primeiras tentativas de graffite para a parede.[1]

Justificativa:
A cultura juvenil está difundida por todos os lugares no espaço urbano. Basta uma observação, ainda que superficial, pelos centros e periferias das grandes cidades para identificarmos essa linguagem, onde ela está e como se configura.
A cultura juvenil se manifesta, principalmente, pelos apelos visuais, sem descartar outros meios. Os suportes tradicionais que veiculam essa cultura são a televisão, internet, cinema, principalmente, mas outros meios de expressão dessa linguagem juvenil são o vestuário, o comportamento corporal aliado a uma fala entrecruzada por gírias e expressões lingüísticas.
Outro componente deste universo marcadamente visual são os grafismos urbanos, que podem ser encontrados tanto em um banco de ônibus quanto em um banheiro de escola ou de universidade. Mas nas grandes cidades, é impossível se locomover sem se deparar com as pichações, um componente visual presente a contragosto em prédios, muros, paredes de casas, muros de escola e salas de aula. Essa prática causa muita discussão na sociedade e não se sabe como solucionar os problemas causados por ela.
Há uma lei no Brasil chamada Lei de Crimes Ambientais, nº  9.605, de novembro de 12 de fevereiro de 1998, a qual, no artigo 65, orienta quais são as penas a que se sujeita alguém que for pego em delito como a pichação[2].  Há pessoas defendendo penas mais duras para aqueles jovens pegos cometendo esse delito. 
A questão que se coloca para o ambiente educativo, como é o caso da escola, em síntese, é: a) punição para os sujeitos que picham ou danificam a escola ou o seu mobiliário pelo viés legal e estará tudo resolvido; b) a escola pode fazer algo mais numa situação dessas e demarcar aquilo que é próprio de seu papel: educar e formar pessoas habilitadas à cidadania, à convivência em sociedade, não fechando os olhos ao problema, mas debatendo e explicitando o problema, tratando-o de forma adequada.
Portanto, se escola não quer fugir ao seu papel de mediadora no processo educativo e construção de relações mais humanizadas e humanizadoras, se faz necessário repensar como vai lidar com essa linguagem que os adolescentes e jovens estão trazendo para o seu meio. A experiência do trabalho de despiche que aconteceu na Escola Municipal Glória Marques Diniz desde o final de 2009 até 2011, mostra que embora seja trabalhoso, haja muito gasto de energia pessoal o resultado é satisfatório. Os estudantes passam a sentir mais valorizados, integrados ao espaço que freqüentam e contribuem na preservação deste espaço que eles passam a perceber como sendo deles. Dizendo na linguagem deles “vou deixar a minha marca”.


Objetivo geral:
- potencializar a habilidade de crianças, adolescentes e jovens que desejem expressar-se por meio dos grafismos, desenhos e escrita murais.

Objetivos específicos:
·         Positivar a relação dos estudantes com o espaço escolar;
·         Ampliar a visão de meio ambiente perpassado pelo cultural e o social;
·         Melhorar a auto-estima dos envolvidos com o projeto;
·         Possibilitar avanços no processo de escolarização;
·         Fortalecer os vínculos entre estudante e escola;
·         Criar uma identidade visual para a escola;
·         Melhorar a relação entre escola e comunidade externa;
·         Possibilitar a expressão da linguagem juvenil.


Metodologia:
- o instrutor de graffite dará oficinas de graffite atendendo, em princípio, turno da manhã, turno matutino e, aos finais de semana, dentro do Programa Escola Aberta;
- cada oficina durará no Maximo 2 horas;
- cada grupo terá no máximo de 15 a 20 integrantes;
- as oficinas acontecerão no espaço da rádio Coruja e/ou em uma sala de aula;
- nas oficinas se desenvolverá a técnica do graffite e as idéias dos painéis ou murais, que serão feitos a cada dois (2) meses;
- o projeto dura um ano corrido (2012) e ao final se procederá a uma avaliação dos resultados;


Cronograma de trabalho do instrutor de graffite:
Segunda-feira
No turno da tardede 15 a 20 participantes no máximo





PLANEJAMENTO FINANCEIRO (completo)

MATERIALIDADE e SERVIÇOS
CUSTEIO (MATERIAL DE CONSUMO)
CUSTEIO (SERVIÇO)
VALOR TOTAL
Instrutor de graffite



Transporte



Lata de spray (Ironlak)



Látex (18 litros)



Rolinho



Pigmento



Rolo de lã



Lápis



Papel







TOTAL GERAL




Contagem, 27 de fevereiro de 2012
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Assinatura e carimbo do dirigente escolar



[1] Veja o vídeo e fotos desse evento no blog da rádio Coruja: http://educoruja.blogspot.com/2011/12/oficina-de-grafite-na-radio-coruja.html
[2] Ver Lei 9.605, de novembro de 12 de fevereiro de 1998. Art. 65.  Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011) . Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.408, de 2011) . § 1o  Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 12.408, de 2011). § 2o  Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. (Incluído pela Lei nº 12.408, de 2011)